domingo, 4 de dezembro de 2011

Métodos de recolha de dados - parte 1

Os dados em investigação educacional

Os dados em investigação educacional podem provir de fontes muito diversas, desde documentos institucionais ou pessoais, a anotações feitas pelo investigador, decorrentes de observação em contextos naturalistas, passando pela aplicação de testes, questionários ou entrevistas aos sujeitos informantes, ou ainda pela utilização de artefactos produzidos em contextos não investigativos.

Nem sempre a recolha de dados exige a elaboração de instrumentos específicos. Contudo, o investigador encontra-se frequentemente na necessidade de ter de construir instrumentos próprios para obter os dados que permitem responder às suas questões de investigação. É o caso de testes, questionários, guiões de entrevistas ou grelhas de observação de comportamentos não verbais[1].

Entrevistas
A entrevista é uma técnica de investigação que permite recolher dados. A forma oral ou escrita, presencial ou não presencial, aberta ou fechada, estruturada ou não estruturada, assumimos como opções livres do investigador na criação e desenvolvimento do guião de entrevista, instrumento para recolher, através de questões, as informações que pretende em relação ao estudo.

“A grande vantagem da entrevista é a sua adaptabilidade. Um entrevistador habilidoso consegue explorar determinadas ideias, testar respostas, investigar motivos e sentimentos, coisas que o inquérito nunca poderá fazer. A forma como determinada resposta é dada (o tom de voz, a expressão facial, a hesitação …) pode fornecer informações que uma resposta escrita nunca revelaria”. (Bell 1993).

Estruturação da entrevista

Entrevista
Objetivos de Investigação
Estruturada
Controle
Semi-estruturada
Verificação; Aprofundamento
Não-estruturada
Exploração

Numa entrevista Estruturada:
Pontos fortes:  facilita a análise dos dados, permite a replicação do estudo.
Pontos fracos:  flexibilidade reduzida, reduz a possibilidade de aprofundamento das questões que não foram elaboradas antecipadamente.

Numa entrevista Semi-estruturada:
Pontos fortes:  otimização do tempo disponível, tratamento sistemático dos dados, permite introduzir novas questões.
Pontos fracos:  requer boa preparação por parte do entrevistador.

Numa entrevista Não Estruturada:
Pontos fortes:  comunicação otimizada, flui como uma conversa onde o entrevistador vai colocando questões mediantes respostas do entrevistado.
Pontos fracos:  requer capacidade do entrevistador, requer muito tempo para obtenção de informações.

Guião de entrevista
Um guião de entrevista é um instrumento para a recolha de informações que tem como objetivo de base à realização de uma entrevista propriamente dita. O guião pode ser constituído por um conjunto ordenado ou não de questões abertas (resposta livre), semi-abertas (parte da resposta fixa e outra livre) ou fechadas (resposta fixa). Deverá incluir a indicação da entidade e/ou pessoa que realiza a entrevista, data, local e título. Apresentação da entrevista e os seus objectivos devem ser lido ao entrevistado. O guião pode conter notações que apoiem à condução da entrevista, como palavras-chave de resposta, questões para aprofundamento do tipo “pode esclarecer-me mais acerca deste assunto?”.

Segundo Bauer e Gaskell (2002), um guia de entrevista não é uma série  extensa de perguntas específicas, mas sim um conjunto de títulos de parágrafos. Um bom guia cria um referencial fácil e confortável para uma discussão, fornecendo uma progressão lógica e plausível através dos temas em foco. É um esquema preliminar para a análise das transcrições.

Número de inquiridos
A definição do número de entrevistados vai depender da natureza da pesquisa, do número de ambientes que se considera relevante e dos recursos disponíveis. Uma coisa deve-se considerar: "mais entrevistas não melhoram a qualidade" ou "levam a uma compreensão mais detalhada do tema em estudo" (Bauer & Gaskell).  Embora as experiências dos entrevistados sejam únicas e individuais, elas acontecem em um meio social que, em parte, são compartilhadas. Os autores observam que, depois de um número x de entrevista, os assuntos começam a ser repetidos, não gerando nenhum dado novo para a pesquisa.

Tendo em conta o número de sujeitos entrevistados, a entrevista pode ser:
Individual, quando a entrevista é dirigida a uma pessoa;
Grupo, quando o entrevistador recolhe dados de vários participantes através da observação conjunta das interacções e dinâmica de grupo;
Social, quando uma pessoa ou um grupo avalia e forma uma opinião acerca de um ou mais indivíduos;
Painel, quando uma pessoa é entrevistada por várias pessoas em conjunto;



[1] Alda Pereira sobre Métodos de Recolha de Dados



Referências:
Bell, J. (1993). Como realizar um projeto de investigação: Um guia de pesquisa em ciências sociais e da educação. Lisboa: Gradiva.

Bauer MW, Gaskell G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 3a ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2002.



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