segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Uma reflexão acerca da pedagogia do e-learning

Há muito se vê a evolução do ensino a distância (EaD) e a dimensão assumida dessa nova forma de ensinar e aprender é cada vez mais evidente. Esse crescimento tem como premissa principal a necessidade das pessoas se tornarem cada vez mais capacitadas ao longo da vida, não bastando apenas formarem-se num ensino regular e utilizar a formação adquirida, ao longo da vida. As exigências das empresas e até mesmo da sociedade são cada vez maiores e isto se reflete no crescimento do ensino a distância.

Podemos referir que o ensino a distância hoje absorve ou engloba todas as tecnologias anteriormente utilizadas nessa modalidade, ou pelo menos tem ao seu dispor, como refere Terry Anderson e Jon Dron no artigo Three Generations of Distance Education Pedagogy: “It should be noted that none of these generations has been eliminated over time; rather, the repertoire of options available to DE designers and learners has increased. Similarly, all three models of DE pedagogy described below are very much in existence today.

Mas afinal, ensino a distância e e-learning são sinónimos? Gomes (2005), em sua reflexão sobre o tema, refere não ser correto torná-las sinónimos e há a necessidade imperiosa desses conceitos serem bem definidos para que o diálogo entre todos os intervenientes no processo de ensino/aprendizagem “corresponda a uma partilha de perspectivas conceptuais”. Refere ainda que:

o e-learning, do ponto de vista tecnológico está associado, e tem como suporte, a Internet e os serviços de publicação de informação e de comunicação que esta disponibiliza, e do ponto de vista pedagógico implica a existência de um modelo de interação entre professor-aluno (formador-formando), a que, em certas abordagens, acresce um modelo de interação aluno-aluno (formando-formando), numa perspectiva colaborativa.” (Gomes, 2005)

De fato, o e-learning é uma estratégia formativa que pode vir a ser a solução para problemas educativos tais como o isolamento geográfico e gestão alargada do tempo disponível para a formação. É legítimo afirmar que a facilidade proporcionada pelos meios tecnológicos atuais vieram facilitar o crescimento do ensino a distância para a “versão” em e-learning. As variedades de ferramentas existentes na Web, proporcionadas pela Internet, tornam-se pontes efetivas entre o conhecimento e a vontade de saber, contudo segundo uma colega de mestrado, Maria Filomena Pestana: “…são as atividades e não as plataformas que concretizam os ambientes de aprendizagem…”. Dessa forma torna-se fundamental a formação de pessoas capacitadas que tenham domínio completo não só das ferramentas tecnológicas disponíveis para a ensino/aprendizagem por e-learning como também a formação pedagógica que dará base para essas pessoas construírem atividades realmente importantes para a aquisição de conhecimentos.

Ao longo dos últimos 60 anos desenvolveram-se várias teorias de aprendizagem, cada uma tentando contextualizar a realidade que se observava no momento. Podem-se destacar três teorias principais que tentam entender/analisar o processo de aprendizagem considerando o contexto formal de ensino de cada época. Assim, conforme cita Albuquerque (2011):

Behaviorismo – teorias que consideram a aprendizagem como o resultado de uma relação funcional entre ambiente e comportamento, na qual o sujeito é passivo neste processo e que deverá apresentar as respostas corretas, sem levar em consideração o que ocorre em sua mente durante o processo de aprendizagem, ou seja, é um mero reprodutor de tarefas e informação. A aprendizagem é uma mudança de comportamento observável.

Cognitivismo/construtivismo – teorias que encaram a aprendizagem como um processo de construção de conhecimento pelos processos mentais utilizados para essa construção, tais como, o armazenamento, a compreensão e a transformação. A pedagogia tem como preocupação principal o desenvolvimento de meios para inserir o conhecimento, que é construído individualmente pela adaptação e organização, na memória do sujeito e, assim, garantir a aprendizagem.

Construtivismo social – teorias que definem a aprendizagem como um processo de incorporação de novos conhecimentos a experiência do indivíduo, processo que ocorre principalmente pela mediação. A cultura faz parte do processo de aprendizagem e o sujeito participa ativamente desse processo.” (Albuquerque, 2011)

Ainda segundo Albuquerque, as teorias citadas acima foram desenvolvidas numa época em que o ensino era unidirecional, professor-> aluno, “um ensinava e o outro aprendia”. Para se entender a aprendizagem em nossa era, a era digital, surge o Conectivismo, uma teoria de aprendizagem totalmente condizente com nossa realidade. Esta, segundo Mota (2009):

“postula que o conhecimento está distribuído numa rede de conexões e que, desse modo, a aprendizagem consiste na capacidade de construir essas redes e circular nelas (Downes, 03-02-2007)”.  

As teorias descritas acima, embora elaboradas em fases diferentes, não podem ser postas de lado, simplesmente porque o que vemos hoje é um acumulo do que vem ocorrendo ao longo dos anos. Nada do que se utilizou foi posto de lado, muitos métodos e tecnologias convivem juntos para facilitar todo o processo de ensino/aprendizagem. Dessa forma, tanto as teorias mais anteriores como também o Conectivismo (que por alguns autores não é considerado nem sequer uma teoria) devem ser levadas em conta para a construção de todo o processo formal de e-learning, desde a construção de materiais instrucionais, os métodos de avaliação a serem utilizados, elaboração de atividades de cunho colaborativo, entre outros. No ensino em e-learning, a aprendizagem colaborativa formal intermediada pelas redes baseadas e suportadas pela Internet tornam-se essenciais para a construção efectiva ou alargamento do conhecimento. Os conteúdos abertos, bem como os recursos educativos abertos, proporcionados pela licença Creative Commons, a partilha de informações através de várias ferramentas Web, denominadas de Web 2.0, tornam-se essenciais para a construção da rede, rede esta que impera o aluno, o aprendente, e este, ora absorve informação, ora se torna ele próprio o autor de informação, inserido numa grande malha de colaboração e partilha fazendo circular e crescer a rede da qual faz parte.

Conclusão
Vivemos nitidamente na era onde impera a tecnologia, estando esta ao alcance de grande parte da sociedade. Este fato não pode ser ignorado e desperdiçado. Há de se potencializar seu uso na educação, colocando-a a serviço de todos. Contudo isto não basta, a preocupação com a aprendizagem efetiva, a elaboração de materiais instrucionais adequados, a formação de professores ou tutores nesta modalidade de formação (e-learning) é imprescindível. Não se pode descurar de forma alguma das necessidades e características dos estudantes, os quais são o motivo central de todo este processo, o centro da rede. Quem pensa que apenas a tecnologia basta, engana-se. O descaso com a estrutura pedagógica adequada e necessária para essa modalidade de ensino (e-learning) é um erro e deste pode-se advir grande número de abandono e insucesso por parte dos estudantes.

Bibliografia

Albuquerque, Rita. (2011). Conectivismo na era digital. Disponível em: http://www.sophia.org/packets/conectivismo-na-era-digital. [acedido em outubro de 2011].

Anderson, Terry, Dron, Jon. (2011). Three genarations of distance education pedagogy. Disponível em: http://www.irrodl.org/index.php/irrodl/article/view/890/1663. [acedido em Outubro 2011].

Gomes, Maria João. (2005). E-learning: Reflexões em torno do conceito. Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/2896/1/06MariaGomes.pdf. [acedido em outubro de 2011].

Mota, José C. (2009). Da Web 2.0 ao e-Learning 2.0: Aprender na rede. Dissertação de mestrado em Ciências da Educação, especialidade Pedagogia do e-Learning. Universidade Aberta, Portugal. Disponível em: http://orfeu.org/weblearning20/. [acedido em outubro de 2011].

Siemens, George. (2004). Connectivism: A Learning Theory for the Digital Age. Disponível em: http://www.elearnspace.org/Articles/connectivism.htm. [acedido em outubro de 2011].

Siemens, George. (2008). A brief history of networked learning. Disponível em: www.elearnspace.org/Articles/HistoryofNetworkLearning.rtf . [acedido em outubro de 2011].

3 comentários:

  1. Oi Débora,
    Acho que não podemos nunca esquecer que a tecnologia é um meio e não o fim da educação. A sua última frase foi muito feliz ao chamar a atenção para a importância da adequação pedagógica dos projetos de educação a distância. Parabéns pelo post. Abs, Rita Albuquerque

    ResponderEliminar
  2. "Dessa forma, tanto as teorias mais anteriores como também o Conectivismo (que por alguns autores não é considerado nem sequer uma teoria) devem ser levadas em conta para a construção de todo o processo formal de e-learning, desde a construção de materiais instrucionais, os métodos de avaliação a serem utilizados, elaboração de atividades de cunho colaborativo, entre outros."
    Concordo inteiramente. Às vezes, cria-se uma separação artificial entre diferentes aproximações, e entre adeptos das diferentes aproximações, como se o objectivo final de todos fosse mesmo. mesmo diferente. E não é. Fomentar o sucesso é um objectivo comum, que não tem uma única "solução" pedagógica. Se não fosse assim (como eu gosto de dizer) estavamos todos desempregados, ;-).

    Abraço

    MJMatos

    ResponderEliminar
  3. Rita, Manuel
    obrigada pelos comentários!

    Bjs,

    Débora

    ResponderEliminar